TÂNIA BRAUN
Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília, com a dissertação O Estatuto do Narratório nos Romances de Machado de Assis. Artista plástica, integrante do grupo de pintura "Terra Tinteira".
GÁRGULA – Revista de Literatura. No. 1 - Brasília, 1997. [Instituto Camões. Impressão: Thesaurus Editora]
Ex. bibl. Antonio Miranda
HOMENAGEM A JORGE DE LIMA
I
Eu que nunca imaginei
caçar além das águias,
desejo as alucinações
que te angustiam, as
noturnas visões, a
memoria insofrida,
a sensação da perpétua
lamúria dos espaços.
Eu, fonte muda,
busco nos teus ermos,
nos teus sonhos, nos
teus muros cansados
de lamentos, uma febre
de vida, uma argamassa.
Não, não quero sossegar,
quero todas as forças
rodantes, todos os moinhos
de doída imaginação.
Quero fazer a danada
travessia, rezando para
que dela renasça a canção
contínua, que me leve a
rodar nas águas do sem tempo.
Quero tuas insônias
circulares e todas, todas
as asas e asas ondulantes.
II
Se há sempre um copo de
mar para navegar, por
que entre mim a ilha
ergue-se sempre o muro
triste, seca-se a Praia,
tudo vira areia movediça.
Sem nau e sem rumo,
se rosa-dos-ventos,
plantada na Praia
árida, açoitada pela
ventania, a minha
aventura de partida
será também nunca
esquecida?
Tu ensinas: travessias nunca
projetadas são feitas
com a ajuda dos acasos, sem
roteiros, sem mapas se astrolabios.
E as projetadas?
Se não soubermos o camino,
bastam só as velas, o salitre
e a fé ardendo nas bandeiras?
Não! Há que ter esse farol
com o feixe largo a barrer
a embarcação. Há que ter
essa voz que ressuscita os
mares. Há que ter essa força
que os encontra. Há que ter
refletidas no sangue
as aves e as nuvens.
*
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Página publicada em maio de 2021
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